Estou montando um curso em que vou falar coisas sobre a importância da memória e, enquanto buscava algumas informações sobre exposições me deparei com uma crítica sobre um recente filme argentino, Medianeras, que foi premiado no Festival de Gramado.
Lendo a resenha do filme, fiquei pensando em Buenos Aires, e juntando com as questões da memória resolvi contar da minha paixão por essa cidade e pela cultura argentina.

Na verdade, minha paixão argentina é Astor Piazzolla. Quando eu nem sequer sonhava em conhecer Buenos Aires, já me encantava com sua música. Tenho diversos CDs de Piazzolla (alguns até repetidos, ai a falta de memória!), mas os escuto somente em duas ocasiões: ou quando estou muito triste, ou quando terrivelmente alegre. A música de Piazzolla não é para meios termos.
Na primeira vez que estive lá, fui naquelas viagens de feriado, e não consegui entender a cidade, perceber suas contradições, o que me deixou intrigada. No ano passado fiquei lá sozinha durante cinco dias, com o pretexto de um congresso, mas na verdade queria investigar a cidade.
Sim, investigar porque ela me intriga. Como um país produz música de Piazzolla e filmes tão maravilhosos?
Perambulando pelas ruas, olhando o povo, comecei a perceber um misto de angústia e de orgulho que se traduz em suas obras. Buenos Aires me fascina. No Caminito eu olhava os casebres, hoje coloridíssimos e transformados em pequenas lojas e imaginava a pobreza das pessoas que moravam ali e que expressavam no tango seus lamentos e suas paixões.
Somente uma cidade tão paradoxal poderia ter construído um ritmo passional como o tango.

Somente uma cidade que vive e pulsa tão intensamente produz filmes como Lugares Comuns de Adolfo Aristarain (2002) e O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella (2009). Curiosamente, dois filmes que falam sobre o envelhecer...
Paradoxos são constante nessa cidade. Depois vou falar do lado que se renova, do Tanghetto e do design. Mas acho que antes preciso assistir Medianeras. O que será isso?
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